Estava ministrando uma aula de manutenção predial quando entramos em uma discussão muito rica e oportuna sobre como agir em relação a instalação de alimentadores de carros elétricos (eletropostos), em edificações que não foram preparadas para a chegada dessa tecnologia.
Não é novidade que os veículos elétricos (VEs) vêm ganhando força no Brasil, apesar dos preços não serem democráticos, fatores como alto preço dos combustíveis e consciência ambiental, está fazendo com que os consumidores optem pelo veículo elétrico.
Dados da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE) mostram que somente no primeiro semestre de 2022, os veículos elétricos somaram 3.395 unidades, e esse número representa mais vendas do que os últimos 5 anos somados. É um crescimento verdadeiramente expressivo.
Ainda de acordo com a (ABVE) “…já há em torno de 1500 eletropostos disponíveis hoje nas principais cidades e rodovias, devendo chegar a três mil até o final do ano, e 10 mil em três anos”.
E as edificações necessitam estar adaptadas para que esses veículos consigam ser carregados. E para isso a NBR 17019, foi criada em 2022 para regulamentar o processo de instalação e alimentação de veículos elétricos.
Quais são os principais pontos de atenção em relação às instalações dos alimentadores?
A NBR 17019:2022 recomenda que cada ponto de conexão em corrente alternada deve ser protegido individualmente por um dispositivo de proteção de corrente diferencial-residual nominal (DR), com corrente igual ou inferior a 30mA. Esse dispositivo deve ser instalado no quadro de distribuição do alimentador, e deve ser específico para esta instalação, ou seja, não pode ser utilizado em outros pontos de conexão.
O texto da norma ainda afirma que o veículo elétrico pode ser utilizado como fonte de reserva, mas traz ressalvas como a consulta ao fabricante do veículo e a obrigação do atendimento às legislações públicas para isso.
Nos condomínios os alimentadores podem ser instalados de forma individual ou coletivo. No uso coletivo as estações de recarga são alimentadas com a carga elétrica das áreas comuns da edificação e cada morador recebe um acesso para utilização. Já no individual cada unidade possui seu carregador e a energia elétrica é coletada pelo medidor individual de energia daquela unidade consumidora.
Em condomínios há implicações sobre como esses eletropostos devem ser instalados, principalmente quanto ao dimensionamento da rede elétrica da edificação que não previu essa carga adicional no projeto elétrico.
Já existem empresas especializadas em realizar a ampliação da carga instalada em condomínios, o que pode implicar na troca dos alimentadores, quadros de distribuição, proteções e até transformadores, por isso cada caso deve ser analisado individualmente por um especialista.
Entre as maiores dificuldades para instalar alimentadores em condomínios estão a disponibilidade de potência elétrica e o rateio dos custos de energia. Para realizar a instalação dos eletropostos devem ser observados 5 processos:
- Análise técnica;
- Projeto;
- Adequação;
- Instalação; e
- Operação.
A análise técnica, realizada por especialistas, levará em conta as condições atuais da instalação elétrica da edificação, a potência instalada, como essa potência está sendo utilizada ao longo do período e a qualidade das instalações existentes.
Também é importante avaliar a provável necessidade de revisão dos projetos de prevenção e combate a incêndios junto ao corpo de bombeiros, devido ao aumento da carga de incêndio e se há necessidade de adequar a apólice de seguros do condomínio. Essas análises vão servir de base para o projeto, indicar o que pode ser feito, quanto de investimento será necessário e apresentar as alternativas viáveis para a implantação.
Na fase de projeto pode ser necessário realizar uma consulta prévia à concessionária de energia elétrica para aumento de carga instalada e adequações no padrão de entrada da edificação.
Quando o síndico recebe uma solicitação de instalação de alimentador de carro elétrico, como ele deve proceder?
Partindo da máxima, que todos os moradores possuem os mesmos direitos, quando um morador for autorizado, o direito é estendido aos demais.
O síndico já sabendo disso, deve convocar assembleia e definir no coletivo sobre a instalação, se esta será individual ou coletiva. Mesmo que apenas um morador manifeste o interesse e a opção seja o eletroposto individual, o síndico deve providenciar a análise técnica por um especialista, e projeto elétrico com ART de instalação da instalação elétrica.
Pois como mencionado no início deste artigo, a presença de carros elétricos é uma realidade, e não uma possibilidade futura.
Não é mais uma questão de “se” mas de “quando” serão feitas as adequações para viabilizar os eletropostos