O conhecimento na palma da mão: será mesmo?

Compartilhe esse post

O conhecimento na palma da mão: será mesmo?

Os aparelhos de celular ganharam um grande espaço nas nossas vidas há algum tempo, se tornando um equipamento indispensável para muitos quando o assunto é comunicação com família e amigos, entretenimento ou negócios.

Diante de tantas funcionalidades, ele está cada vez mais presente em nossa rotina, inclusive, não seria exagero dizer que este aparelho quase está se tornando uma extensão do nosso corpo, pois, muitas vezes, as pessoas até esquecem ou perdem coisas por aí, como a carteira ou algum documento, mas se isso acontece com o aparelho celular, certamente elas dão meia volta no mesmo instante e o procuram com afinco. Isso não somente pelo valor financeiro como também pelo valor simbólico que ele agrega. Quem nunca, não é mesmo?

Para além das funções comunicativas/pessoais, o celular também se tornou uma ferramenta profissional de destaque na mão dos engenheiros e arquitetos, não só para alimentar periodicamente suas redes sociais, estabelecer contatos, mas também, como instrumento de trabalho para registro ou busca de soluções, aprimoramento com apps específicos ou aplicação de novas tecnologias.

Então, surge a pergunta que não quer calar: será que como ferramenta de trabalho, os celulares são eficientes? Será que os aplicativos disponíveis entregam aos usuários resultados confiáveis do ponto de vista técnico, matemático e de aferição?

Para aprofundarmos essa reflexão um pouco mais, darei um exemplo. Quando falamos em acústica, o equipamento mais utilizado para aferição dos padrões estabelecidos pelas normas técnicas são os decibelímetros.

Se você, leitor, que está acompanhando o texto nesse momento buscar por “decibelímetro” no aplicativo de compras do seu equipamento, irá encontrar uma série de apps que teoricamente exercem a função de medição acústica.

Apesar de haver essa diversidade, não encontraremos de maneira explícita as fontes e referências utilizadas por esse recurso, o que também nos leva às indagações semelhantes às anteriores: será que o resultado obtido por meio do equipamento de celular pode ser usado como base para a fundamentação de um laudo técnico, ou não? Será que o uso dos celulares em conjunto com apps estão apresentando resultados que quando aplicados e demonstrados por meio de arquivos de engenharia são questionáveis do ponto de vista técnico?

De maneira oposta, quando utilizamos equipamentos específicos, se torna obrigatória a calibragem das máquinas utilizadas durante os ensaios, mas no caso de celulares, qual seria o padrão de calibragem? Será que há de fato uma calibragem? Qual a margem de erro dos resultados? Esses resultados são confiáveis? Como você pode perceber, são muitas incógnitas para dados que precisam ser altamente confiáveis, não é mesmo?

Por mais abrangente que esse conjunto de questionamentos possa parecer, é necessário pensarmos que, como profissionais de uma área de exatas com implicações práticas, os dados precisam ser coerentes e corretos. Portanto, é questionável até onde o uso da tecnologia pode, ou não, interferir em uma análise precisa de engenharia.

Outra questão que precisa ser levantada é: será que todos nós especialistas da construção civil ou da arquitetura estamos aptos a avaliar os resultados apresentados? Sendo esses resultados obtidos por equipamentos como celulares ou outros específicos diante da análise pretendida?

Afinal, não basta ter apenas equipamentos caros ou celulares da última geração com aplicativos que dizem apresentar os resultados que queremos, é mais que necessário dispor de conhecimento técnico para avaliar se os dados/números ali apresentados são razoáveis, ou não, assim como ter uma bagagem técnica para que, com isso, seja possível alicerçar uma fundamentação que não apresente futuros questionamentos.

Diante disso, não somente a credibilidade como a responsabilização do profissional está em jogo, considerando que uma análise técnica eficiente pode prevenir prejuízos e sinistros. Ainda que eventualmente se utilize um aparelho eletrônico, o resultado/parecer final merece ser avaliado, contestado ou validado por um profissional humano com experiência prática comprovada.

Nesse sentido, a tecnologia pode ser um dos meios, mas não o cerne do conhecimento. Pense nisso.