Muitos dizem por aí que ao ingressar na faculdade de engenharia civil, você vai faturar muito, ter notoriedade, trabalhar pouco e conquistar o futuro.
A falácia ainda diz que, para isso, basta começar a trabalhar com patologia das construções, afinal, elaborar um laudo é simples, rápido e não requer conhecimento específico.
Será mesmo? Não é possível!
Bom, parece que esta regra não se aplica a mim, pois cá estou eu escrevendo um laudo de quarenta páginas de estrutura de concreto, no qual já foram utilizados mais de dez livros de autores diferentes para embasamento, leitura e estudo.
E não para por aí: somente para este laudo, as análises e dados dos ensaios foram discutidos em reuniões com a equipe de inspeção, não apenas uma vez, mas várias, perdemos as contas de quantas vezes buscamos entender os detalhes. Além disso, as imagens foram reavaliadas, o texto revisado, corrigido e novamente alterado, afinal, o erro não pode acontecer.
É por situações como essas que já passei noites dormindo menos, não pela má administração do tempo, mas pelo peso da responsabilidade de escrever algo técnico para pessoas leigas. Como apresentar a melhor forma de falar, de escrever, de expor ideias e interpretar dados, e ainda assim ser claro o suficiente para que todos compreendam?
Nesse sentido, recentemente, ouvi de um profissional que admiro muito que “existem duas interpretações, a que você entendeu e falou e a que o outro disse que entendeu” e essas duas interpretações podem caminhar em sentidos paralelos, ou não.
Portanto, escrever sobre a sintomatologia das manifestações patológicas pode até parecer fácil inicialmente, já que uma fissura é uma fissura, uma corrosão se comporta como uma corrosão, mas entender as causas, os mecanismos, e definir os parâmetros, o método corretivo e as respectivas responsabilidades… é outra história.
Diante disso, o que eu vejo, e isso é uma opinião extremamente pessoal, é que muitos querem encontrar o caminho para a tão sonhada realização profissional e pessoal, mas querem fazê-lo estando vendados ou apoiados sobre um conhecimento raso, que funciona como uma boia, que sempre te colocará para cima, quando, na verdade, o tesouro está ao fundo!
E muitos se enganam ao pensar que o conhecimento está em todos os lugares, nos tempos atuais, a ignorância vem bem vestida, sabendo convencer e levando a crer na facilidade.
Logo, nada de importante na vida vem de forma simples! Nem a escrita de um laudo técnico, nem mudar a chave da sua carreira.
Faz parte do processo enfrentar batalhas, como estudar, abrir mão de horas de descanso em lazer, investir e muitas outras batalhas que podem ser individuais a cada pessoa. E diante desse trajeto, como em toda trajetória, teremos cicatrizes, teremos momentos perdidos, teremos que fazer escolhas que vão nos custar algo. Mas se você está disposto a esses sacrifícios, pronto! Está traçado o caminho!
Por fim, que essa reflexão rápida de uma cabeça que só consegue, nesse momento, pensar em cloretos e corrosão possa ter reforçado a ideia de que nenhuma área será mais fácil que outra, tampouco a patologia das construções poderia ser caracterizada assim.
E em se tratando da engenharia, a dedicação e a atualização são pré-requisitos básicos, pois esses dois fatores em conjunto, sem dúvidas, irão moldar um profissional tecnicamente responsável com soluções práticas e claras a quem precisa. Pense nisso!