Cuidado com a documentação

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Cuidado com a documentação

RMP – Julho 2022

Há muito tempo uso a rede profissional LinkedIn, para alertar sobre a segurança com instalações elétricas e para-raios. Esta rede conta com mais de 60 milhões de usuários no Brasil e mais de 810 milhões no mundo e, ter assunto para cada nicho, dentro do contexto Brasil não é fácil, pois ele precisa ser claro, objetivo e com qualidade, não apenas uma simples postagem e nada mais.

Um assunto muito debatido ao longo destes anos e que tem sido o calcanhar de Aquiles para muitos profissionais, é na hora de participar de uma tomada de preço e perder por que o nosso valor estava aquém do desejado pelo cliente.

A cultura da segurança em nosso país precisa ser revisto com a máxima urgência, pois parece que se não realizamos ou não participamos de “leilões” junto aos clientes, estamos fora do mercado na qual atuamos, deixando sempre a imagem que “queremos ganhar dinheiro” com preços mais elevados, o que na realidade não é isso, mas sim, preços justos.

Em outro artigo publicado aqui na Revista Manutenção Predial, falei sobre o gerenciamento de riscos no setor de para-raios, um documento negligenciado e que poucos sabem de fato, mas ele faz parte da vida documental de um prédio, empresa ou indústria quando o assunto é proteção contra descargas atmosféricas.

Em paralelo, é como uma APR – Análise Preliminar de Riscos durante os trabalhos, documento este elaborado e assinado por um técnico ou engenheiro de segurança no trabalho, ele é de suma importância na hora de executar uma obra ou em consulta durante todo o processo e em caso de acidente.

Em uma matéria publicada em um jornal de uma cidade da Grande SP, o texto dizia que: “97% das escolas estaduais do ABC não possuem AVCB”, oras, então como é que pode funcionar?

Temos por costume exigir documentos dos mais variados em obras e dependendo da área de atuação, mas será que quem tanto exige tem também os documentos necessários para se manter seguro?

O código civil diz claramente no Art. 927: “Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.”.

Nosso país tem desafios demais para superar para ainda termos que assistir a incêndios, desabamentos, por falta de uma fiscalização mais enérgica, pois sem ela, aumenta ainda mais a incidência de acidentes, levando à morte ou deixando sequelas pelo resto da vida.

Trabalhar de forma incansável é o dever de qualquer profissional que se preze, afinal, na documentação seu nome está lá, não para enfeitar, mas para assumir responsabilidades.


Sempre buscamos por profissionais que façam o trabalho que nós não queremos fazer, mas precisamos estar preparados e ser conhecedores de nossas responsabilidades também, saber de fato se eles são conhecedores da área em que atuam se há documentação legal, tanto prestador de serviço como a própria empresa.

O último acontecimento na região central de São Paulo deixou dois bombeiros feridos e, por sorte ou milagre, não havia pessoas no local durante o incêndio que atingiu prédio de 10 andares e outros três imóveis, incluindo a primeira Igreja Ortodoxa do Brasil.

Além de perdas materiais, há também as perdas culturais de um povo, uma nação.

Condomínios, empresas, indústrias e até órgãos públicos exigem dezenas de documentos e certificações, mas sabemos que a coisa não é bem por ai e, ledo engano pensar que acontece apenas aqui no Brasil.

Em conversa recente com um amigo que mora em Portugal, o “privilégio” não é apenas nosso, os desafios enfrentados lá por falta de fiscalização também existe.

Nos Estados Unidos, por exemplo, há um instituto que certifica os instaladores de sistema de para-raios, é a LPI – Lightning Protection Institute, ou seja, colocam no mercado os melhores nomes em sistemas de proteção contra raios, que seguem rigorosamente as normas de seu país.

No Brasil há uma variedade enorme de empresas agregadoras de serviços, os mesmos emitem e realizam serviços como: AVCB, extintores, para-raios, elétrica, hidráulica, pintura, mas será que todos estes serviços estão a contento ou apenas mais um número para a concorrência e uma forma de brincar com instalações e vidas?

Quantos prédios mais arderão em chamas, até que de fato haja punição para os que se aventuram em serviços que exigem não apenas conhecimento, mas responsabilidade?

Durante uma visita há alguns anos, me deparei com uma sinalização na parede dizendo ser ali um quadro elétrico, mas na realidade, era um quadro de telefonia, lembrando que este foi mais um documento emitido por empresas “especializadas” no setor do AVCB, o que leva não apenas clientes, mas também outros profissionais ao engano caso não tenham a expertise no assunto.

Em 2021, apenas dos casos informados à ABRACOPEL – Associação Brasileira de Conscientização para os Perigos da Eletricidade foram 1585 acidentes com 674 mortes com eletricidade, mas este número pode ser ainda maior, pois muitas informações acabam não sendo noticiadas e não chegam até nós.

Portanto, encerrando este assunto sobre documentação, precisamos analisar mais uma questão importante: documento assinado não diz que sua edificação está em conformidade; é necessário um levantamento minucioso para confirmar a veracidade.