Durante os últimos anos tenho refletido e promovido debates sobre a qualificação de profissionais para atuar em projetos e instalações de Automação Residencial e Predial.
Já consigo notar sensíveis progressos, envolvendo a participação direta de fabricantes, distribuidores, escolas técnicas, imprensa especializada e entidades do setor, como a AURESIDE.
A capacitação e certificação destes profissionais já atingem patamares satisfatórios quando levamos em conta aspectos técnicos ligados à instalação, programação e manutenção dos sistemas de automação para edificações em geral.
No entanto, ainda vivemos um grande impasse quanto ao entendimento e a assimilação destes projetos no âmbito da construção civil propriamente dita, ou seja, agentes como engenheiros civis, mestres de obras, arquitetos, empresas de instalações, gestores condominiais entre outros.
Os projetos de automação, principalmente aqueles que por sua natureza integram diferentes disciplinas são muitas vezes objeto de discussões carentes de metodologia e entendimento amplo.
O cenário pode se tornar ainda mais desfavorável quando envolve fornecedores que pretendem forçar a adoção de suas soluções em detrimento da eficiência geral que se busca. Alguns dos setores mais reticentes são os de elevadores, ar condicionado e sistemas de prevenção e combate a incêndios.
Existem justificativas aceitáveis nas limitações, por vezes impostas por estes agentes em função da necessidade de atendimento de normas ou padrões já estabelecidos. Mas, atualmente com a integração bem planejada dos projetos das diversas disciplinas é possível obter o máximo de desempenho com um mínimo de interferências.
E temos outro agravante: os próprios contratantes destes serviços, ou seja, as incorporadoras ou construtoras, carecem de conhecimentos básicos para poderem exigir dos fornecedores este tipo de comportamento.
Raramente o contratante conhece em detalhes o que está sendo adquirido e, principalmente, quais os parâmetros de desempenho que devem solicitar. Assim, entendemos que é urgente tratar desta questão, ou seja, como podemos capacitar equipes técnicas ligadas à construção civil?
Trata-se de um desafio considerável, se levarmos em conta a composição das forças atualmente existentes.
Em situações pouco competitivas, surgem iniciativas de determinados fornecedores cujo caráter mercadológico e promocional se sobrepõe ao técnico. Este tipo de atividade não se traduz propriamente num treinamento, mas sim num esforço dirigido para promover determinada marca ou tecnologia em detrimento da concorrência.
É comum observarmos o surgimento de “gurus da tecnologia” que se apresentam nas obras, contudo, mais por estratégias comerciais do que propriamente para atender requisitos pré-estabelecidos em projeto.
Portanto, para esse setor, faltam programas de capacitação isentos, focados mais na área de conhecimento conceitual e técnico do que na natureza de produtos e soluções específicas ligadas a marcas comerciais.
O volume de investimento destinado aos projetos de construção civil é bem significativo para um volume tão pequeno de gastos com treinamento e capacitação de pessoal.
Nem sempre um projeto bem detalhado e especificado é concluído como foi planejado pelos seus criadores, o que provoca gastos desnecessários durante a obra e, mais grave ainda, pode comprometer o uso, operação e manutenção da edificação no seu dia a dia.
A utilização de consultores e equipes de comissionamento pode resolver parte do problema mas, além disso, os contratantes de sistemas e serviços ligados à tecnologia nas edificações, tais como automação, segurança eletrônica, telecomunicações, sonorização e outros correlatos devem se preparar adequadamente para vencer este desafio de capacitação rapidamente, e passar a exigir dos contratados um maior rigor no atendimento das especificações em seus projetos.