A gerência e manutenção da infraestrutura física dos estabelecimentos assistenciais de saúde da rede pública têm sido deficitárias, entre outras razões, nem sempre as etapas básicas em um processo de desenvolvimento gerencial são articuladas entre o planejamento, o projeto, a execução e a manutenção.
A preocupação maior é concentrada na execução de obras e na aquisição de equipamentos sendo a manutenção, até por uma questão cultural, negligenciada levando à descontinuidade e a baixa qualidade na prestação de serviços.
Uma expressiva parte dos dispêndios com manutenção, especialmente na área de equipamentos médico-hospitalares, é consequência da carência de recursos humanos habilitados para a gerência e manutenção desse arsenal tecnológico.
Em princípio, toda nova tecnologia, ou equipamento médico, poderia ser considerado como “bom ter”, mas que para se definir o que seria “necessário ter” deve-se levar em consideração quesitos como as políticas e estratégias de saúde, a organização da rede de serviços, a inserção da unidade no sistema, a compatibilidade com a complexidade dos demais serviços, normas e padrões mínimos de funcionamento existente, funções e tipos de equipamentos, uso efetivo e seguro do equipamento, custos de investimentos e custeio do equipamento, etc.
Em decorrência da falta de mão de obra especializada, as instituições públicas de saúde utilizam parte do universo de seus equipamentos, os serviços de manutenção oferecidos por terceiros, a custos muitas vezes exorbitantes e sem acompanhamento dos serviços de controle de qualidade, tendo, como consequência uma rede prestadora de serviços de saúde desigual, com desperdício de recursos financeiros e muitos casos negligenciando o gerenciamento de riscos a pacientes e operadores.
Estudos têm mostrado que, em países desenvolvidos, cerca de 25% a 50% de seus parques de equipamentos não estão sendo totalmente utilizados, tendo como razões para o uso ineficiente formas variadas, que incluem:
- dificuldades na aquisição de materiais de consumo de peças de reposição;
- falta de recursos humanos treinados, inadequadas infraestruturas para instalação e operação; ou
- uma demanda muito baixa de pacientes.
Dessa forma, mesmo que um equipamento seja conceituado, sob o ponto de vista de uma avaliação nacional, como “necessário ter”, deverá ser feita uma avaliação das condições especificas do sistema de saúde regional / local, visando definir:
- quais as funções que esse equipamento deverá preencher?
- Qual equipamento poderia preencher essas funções de forma efetiva e segura?
- Os pré-requisitos para a instalação e uso desses equipamentos estão presentes?
Nas três últimas décadas têm havido uma preocupação crescente com o gerenciamento de prédios, instalações e equipamentos, principalmente no tocante à manutenção dos mesmos.
Este fato pode ser explicado pelo acelerado processo de incorporação de tecnologia dos edifícios técnicos, impulsionando, com isso, a consolidação de um dos campos de atuação da engenharia e da arquitetura:
“a manutenção de uma unidade de saúde começa nas soluções de projeto. O ideal é o desenvolvimento de um Projeto com instalações voltados para facilitar o processo de manutenção”
A atividade de manutenção predial nas edificações de saúde, tanto pelo custo inicial de um novo investimento quanto pelo custo de reforma de um hospital deteriorado, precisa ser eficaz, eficiente e efetiva.
Na área de edificações, também se sente à carência de profissionais especializados na gerência e manutenção de infraestrutura física em saúde, um dos suportes básicos na qualidade da prestação de assistência à saúde.
Podemos ainda observar que o não gerenciamento de contratos de manutenção, pela inexistência nas unidades hospitalares de especialistas em gestão de manutenção (engenheiros clínicos, engenheiros biomédicos, engenheiros de manutenção etc.), satisfazendo-se as organizações com acompanhamento burocrático dos contratos feitos por não-técnicos.
Como propostas para o processo de manutenção, estão consideradas os trabalhos que podem ser desenvolvidos por profissionais classificados em cinco níveis básicos:
1) artífices em manutenção (equipamentos ou predial);
2) técnicos (eletrônica, eletrotécnica, edificações entre outros);
3) todas as atribuições da engenheira incluindo engenheiro biomédico e clinico;
4) arquiteto e
5) terceirização.
O profissional técnico deve ser responsável pelas inspeções, acompanhamento da execução dos serviços de adaptação do espaço para nova tecnologia, acompanhamento da equipe terceirizada durante a execução de manutenções preventivas, acompanhamento do ensaio no equipamento após o reparo, inspeções nas condições de segurança nos locais (por exemplo elétrica), validação dos equipamentos, entre outras atividades técnicas , sendo que o artífice será subordinado ao técnico e ao engenheiro biomédico e clinico.
O grupo selecionado de profissionais classificados nos cinco níveis básicos deve receber treinamentos específicos administrativos, por exemplo, pelo Sistema S (Senai/Senac), pelas escolas técnicas (no âmbito federal e estadual), pela Escola Politécnica de Saúde da FIOCRUZ ou por entidades de ensino devidamente reconhecidas pelo Ministério da Educação, como ação e projeto de Educação Continuada.